Mudanças no uso da terra
Estabelecer as plantações de café no Brasil que o tornaram o maior fornecedor mundial de café teve um enorme custo ambiental. Enormes áreas de floresta tropical foram derrubadas e queimadas para limpar a terra para mudas de café (M Pendergrast, 2010). O solo fértil, enriquecido com húmus proveniente de séculos de crescimento florestal e com adição de minerais das cinzas, era ideal para o cultivo do café. Em pleno sol, os pés de café cresceriam rapidamente e absorveriam os nutrientes do solo. Entretanto, sem a cobertura florestal, o solo seria rapidamente erodido e os seus nutrientes seriam eliminados. Quando as terras agrícolas ficassem “cansadas” e os cafeeiros deixassem de ser produtivos, novas áreas de floresta seriam desmatadas para substituí-las.
Este padrão de mudanças no uso da terra tem se repetido em quase todos os lugares onde o café é cultivado. A produção de café aumenta 144.400 toneladas por ano e, em quase todos os países onde a produção de café está a aumentar, a principal fonte de novas terras para cultivo de café é a desflorestação (P Baker, 2014). No Brasil, porém, o aumento da produção se deve principalmente à melhoria da tecnologia que permite maiores rendimentos por hectare.
Desmatar a floresta tropical para cultivar café tem um efeito triplo nas emissões de carbono. Em primeiro lugar, perde-se a capacidade das árvores de absorver carbono da atmosfera. As florestas tropicais da África e da América do Sul podem absorver quase um quinto das emissões de carbono do mundo (SL Lewis et al., 2009), mas a desflorestação e as secas e o aumento das temperaturas resultantes significam que esta capacidade está a ser perdida (W. Hubau et al., 2020).
Em segundo lugar, as próprias árvores são um enorme sumidouro de carbono, que é libertado para a atmosfera quando é queimado ou deixado em decomposição. A floresta amazônica armazena 127 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a 140 anos de emissões antropogênicas de carbono (Confiança da Floresta Tropical, 2017).
Finalmente, o carbono da matéria orgânica do solo também é rapidamente liberado (AL Varcho, 2015). Devido a estes efeitos combinados, o desmatamento por si só é responsável por 10% de emissões globais de carbono (Aliança pelas Florestas Tropicais, 2018).
Metade de todo o carbono armazenado nas florestas do mundo é encontrado em áreas tropicais. O desmatamento é responsável por 10% do total mundial de CO induzido pelo homem2 emissões. Imagem por GRID-Arendal.
Reduzir o impacto das mudanças no uso da terra é, portanto, vital para tornar o café mais sustentável. A mudança para sistemas de produção de café menos intensivos – por exemplo, através da conversão das explorações agrícolas para o cultivo biológico – pode ser contraproducente na redução das emissões se resultar no cultivo de mais terras para compensar os rendimentos mais baixos (ARM Noponen et al., 2012).
Numa análise padrão da pegada de carbono, apenas as mudanças no uso da terra nos 20 anos anteriores são incluídas na avaliação (B Killian et al., 2013). Contudo, o armazenamento de carbono derivado de árvores de sombra e culturas perenes também está excluído. Foi demonstrado que a cafeicultura fornece reservas de carbono a longo prazo, nos próprios cafeeiros e nas árvores de sombra, mas este sumidouro de carbono é excluído da maioria das análises da pegada de carbono (ARM Noponen et al., 2012). Se as árvores de sombra forem plantadas deliberadamente como parte de uma mudança de uma monocultura, as mudanças no uso da terra associadas à conversão para a cultura do café podem até manifestar um efeito positivo no sequestro de carbono.