Irrigação por gotejamento, menos risco financeiro.
Graciano Cruz é produtor de café especial em tempo integral e mora aos pés do Volcan Baru, a poucos minutos de suas principais fazendas – Los Lajones e Emporium. Graciano possui um vasto conhecimento na cafeicultura e tivemos a sorte de entrevistá-lo sobre o tema irrigação por gotejamento. Graciano nasceu e cresceu em Boquete, Panamá. Formou-se em Agronomia pela Escuela Agrícola Panamericana Zamorano. Graciano também possui MBA pelo INCAE, Q Grader certificado, diretor de diversos projetos de desenvolvimento de café, pai de dois filhos e surfista. Nesta entrevista realizada no Festival do Café de Berlim, Graciano fala com o Reitor de Estudos de BH, Jem Challender, sobre os custos-benefícios e os desafios de converter uma fazenda de café para irrigação por gotejamento.
Fotos: retrato de Graciano Cruz e sua fazenda, Fazenda Los Lajones.
Jem Challender – Você ganhou recentemente a Copa Brasileira de Excelência [competição de produtores] com plantas que amadureceram em um ritmo muito mais rápido que o normal. Você poderia nos contar como a irrigação por gotejamento acelera a taxa de crescimento das plantas?
Graciano Cruz – O que eu diria é que a irrigação por gotejamento não acelera as coisas, mas mais se você colocar água na planta de uma forma mais constante, e você for bem preciso com o que a planta precisa, você está [dissolvendo] um muitas das características do território [dentro da água].
Lembre-se, todas as bactérias, todos os microorganismos do solo não se movem no solo, mas sim em uma solução aquosa. Todos os nutrientes se movem na água. Se você não tiver água a planta não pode comer. Não pode ter esse efeito simbiótico com a natureza. Que é todo aquele universo de microorganismos que ali trabalham, que os franceses dão nome território ao vinho há muito tempo.
Estamos aprendendo com o café que talvez haja algumas das mesmas leveduras ou microorganismos que você encontra em outras bebidas, como o vinho. Existem mais plantas de café no mundo do que uvas para vinho. Tem mais gente dependendo do café. Então, quando você fala isso, basta trazer o fator água com as mudanças climáticas, para mim a pergunta é: isso vai colocar limites na produção de café?
Com os preços baixos, hoje em dia no mercado, você tem o povo brasileiro que ainda está ganhando dinheiro. [Práticas agrícolas] totalmente mecanizadas, por vezes talvez demasiado severas na utilização de produtos químicos e fertilizantes. Eu acho que tudo isso tem que estar em equilíbrio.
Ao usar irrigação por gotejamento, você alimenta sua planta com o que ela precisa. E é um período de tempo muito curto que você tem em cada colheita para fornecer os nutrientes certos para que as plantas possam expressar seu potencial máximo.
JC – Você está adicionando nutrientes à água da irrigação por gotejamento?
GC – Estamos começando a fazer alguns testes, mas no Brasil já é o sistema.
Fazemos análises foliares duas vezes por ano e análises de solo duas vezes por ano, ou você pode fazer análises foliares com ainda mais frequência e lerá o que a planta está lhe dizendo do que precisa. O que ela precisa para continuar crescendo por completo.
Com a irrigação por gotejamento, você pode economizar de um a dois anos antes da colheita. Assim, o [dinheiro e tempo investidos na instalação do] sistema de irrigação pode ser compensado com a primeira colheita.
JC – Normalmente seriam cinco ou seis anos?
GC – Normalmente são quatro/cinco anos. Os brasileiros estão realmente avançados nisso; e penso que na América Central algumas pessoas estão a começar a brincar com isso, mas, dentro de mais cinco anos, eu diria que agricultores eficientes, e bons agricultores que tenham acesso à água, poderão fazer algo realmente bom.
JC – Você pode nos contar sobre o custo-benefício, quando você investe em irrigação por gotejamento?
GC – Investir em irrigação por gotejamento é como quando você planta – quando você investe na lavoura de café, e você coloca um pé de café você está apostando por cinco anos, até a primeira safra. Dessa forma [se você usar irrigação por gotejamento] você jogará apenas por dois ou três anos. Portanto, seu risco será 40% menor. É tudo uma questão de gerenciamento de risco. Portanto, os financeiros, os banqueiros, que financiam o café, deveriam compreender isso. Essa é uma mensagem clara para eles.
JC – Eu entendo que alguns agricultores podem não ter um reservatório disponível?
GC – Sim, você sabe? Você tem a maioria dos países cafeeiros,
você tem um pouco de chuva e eles estão na área tropical, nas áreas subtropicais, e temos que aprender
como colher mais água, e quero dizer “colher água”, para que você possa irrigar suas plantações.
JC – Seriam pequenas barragens localizadas nas explorações agrícolas das pessoas?
GC – Sim, acho que é só captar água da chuva e de cisternas e sistemas diversos. Também há muita tecnologia acontecendo com a despadronização de águas muito pesadas [em minerais] ou de diferentes tipos de água.
JC – No Panamá é possível tirar água do solo?
GC – Do chão, sim. Você pode obter concessões sobre poços.
JC – E acontece principalmente que há chuvas naturais suficientes que não precisam ser complementadas no Panamá?
GC – Se você coletar a água dessa chuva — sim. Se não, é um estresse, então é períodos de cabeça para baixo, anos com boa colheita, menos floração. Aqui você consegue fazer uma floração mais uniforme, uma colheita mais uniforme.
JC – Quando você usa irrigação por gotejamento, ainda é necessário restringir durante o período de seca para estimular a floração?
GC – Normalmente é isso que você faz. Mesmo com irrigação por gotejamento é mais fácil de fazer.Sua flor pode ficar mais localizada, dentro [período de floração mais compacto].
JC – Por quanto tempo você normalmente restringiria a irrigação?
GC – Depende das condições meteorológicas, mas pode ir de duas/três semanas a um mês e meio.
JC – Isso foi ótimo!
GC – De nada, cara. Muito obrigado.
Tchau, pessoal!